quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Folhas de outono





                                         
Meus sonhos, assim como folhas de outono
Levadas  pelo vento,
O tempo, como ventania de verão, os levou também.
Para onde? Não sei,  mas para muito além de mim,
Onde só o pensamento chega...
... Onde só as lágrimas vão.
Pra lá foram folhas, histórias e lágrimas.
Como se o outono quizesse esconder da primavera
As tristezas que não alegram as flores.
Assim fiquei sem histórias... sem lágrimas,
Olhos vazios procurando em horizontes perdidos
Poesias inacabadas, poesias sem dono,
Poesias que nunca ninguém escreveu...
E dentro delas me colocar
Mesmo como palavra solta, sem sentido,
Mesmo como uma folha de outono caída
Chorando sua dor sem ser percebida.


José João





segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Alma prostituída



Uma lágrima cai dos meus olhos,
Afaga meu rosto, sem que eu queira,
Como uma meretriz, que afaga sem carinho,
Ainda assim minha alma se prostitui, e prostituta
Se deita cômoda na cama do tempo
Como se o macho fosse um pensamento,
Sem que ela perceba, estéril.
Que sorte! Assim não haverá criação.
E a sólida, mais que solidão ou carência,
Figura de um fantasma bêbado cheio de vazio,
Em depressivo passo alucinante,
Cambaleia numa estrada sem rastros,
Nem parece caminho, apenas uma rota de fuga
Por onde ninguém nunca passou.
E o vento, silencioso, por ser tão pouco,
Canta baixinho uma canção sem nexo,
Se contorce como se fosse louco,
Como se estivesse no cio... no coito
Querendo fecundar a alma prostituta
Que traiu o estéril pensamento,
Não com o vento, que bobo se roça no tempo.
A alma carente se entrega a um mero e
Qualquer Tormento... como este fosse...
O galã do momento.

José João

Em qualquer lugar do inifinito



Para qualquer lado que ande chego no infinito
Assim não preciso de sul ou norte para seguir
Posso andar na direção de qualquer estrela
Que o infinito... é logo ali, basta apenas ir


Não tenho rumo, nem rota, nem caminhos
Estradas ficaram como marcas no chão,
Como veredas esguias por lágrimas molhadas,
Por soluços da alma em dores choradas


Em que porto chego traçando rota pelas estrelas?
Onde no universo haveria um lugar pra não chorar?
Triste ilusão é pensar que a tristeza não vai estar lá


Por isso não tenho um ponto no infinito a desejar
Qualquer lugar do universo me serve para estar
Afinal a tristeza não está lá, comigo ela vai chegar


José João















sábado, 24 de setembro de 2011

Cárcere





Qual crisálida no casulo adormecida
Em que a existência é apenas um estar
Assim minha alma pelo vazio envolvida
Que quase morta insiste em lhe deixar


O frio da tristeza em prantos deixa alma
Que chora em agonia a saudade de uma vida
Que não volta, poi no tempo se perdeu
E deixa as cicatrizes a mostrar o que viveu


Que vida! Que sonhos! Aurora a despertar
Em sol alegre corpo e alma a aquecer
Em que a própria vida lhe pedia pra viver
ESm dias renascidos sempre no vo alvorecer
Assim como a crisálida no casulo adormescida


Mas no tempo se perderam sonhos... ilusões
e o vazio tão frio, prisão de pensamentos
Me deixa disponivel só a vontade de chorar
E à alma não deixa nenhum sonho pra sonhar


Asim como a crisálida em casulo adormecida
Minha em cárcere do vazio a lhe deixar
Enquanto a crisálida amanhã já terá vida
Minha alma amanhã terá prantos pra chorar


José João





O jardineiro





Deixe que lhe diga em versos simples
O largo sentimento que me toma
Tão grande, a comparar no campo apenas
Com o jasmin que ao mundo exala seu aroma


Da palavra, o dom divino não me coube
A mim restou apenas ser um mero jardineiro
Sem leitura, aprendo a vida com as flores
Que belas e soberbas nascem em meu canteiro


Deixe-me que lhe diga em versos simples
Pois as palavras dos doutores não conheço
Mas sei sentir no peito um doce encanto
Apesar de senti-lo por quem eu não mereço


Mas de minha ignorância não reclamo
Apesar dela minhas mãos sabem falar
As flores, senhora, a mim se entregam todas
Dizem que como eu ninguém mais sabe amar.


José João

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A dor que sinto

Parece não ter sentido a dor que agora sinto
E por não ter sentido até parece não ser dor
Mas pra a alma, mentir não posso e não minto
E deixo que, da vida, ela sinta o amargor

A dor é tão doída que a voz se cala em pranto
E calada no silêncio só soluços pra chorar
No peito morre a ânsia de tentar cantar um canto
E a alma alucinada chora sem histórias pra contar

Parece não ter sentido nenhuma dor que senti
Mas todas foram perdas por tudo que já vivi
Ainda hoje choro triste pelo que ganhei e perdi

Parece não ter sentido a dor que agora sinto
Mas é uma dor tão doída que a voz se cala em pranto
Deixando morrer no peito a ânsia de cantar um canto.








quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Minha alma





Qual inocente pomba que no céu se perde
Voando a esmo em perdido espaço
Gemendo triste e o coração partido
Pelo pobre filho que caiu no laço


Qual alvo lírio que no prado murcha
Pelo cruel calor de ardente estio
Ou como inocente peixe em agonia lenta
Por que sem água lhe secou o rio


Assim minha alma no espaço chora
E pede aflita... e não escolhe a hora
Qual mãe que a vida do filho implora


Que um dia encontre doce regaço
De que preciso e sem que não passo
Pode até ser qualquer terno abraço.


José João

Meu canto

Meu canto é triste e nasceu chorando
Como o triste canto de um passarinho
Que vai aos filhos buscar comida
Mas que na volta lhe roubaram o ninho


Meu canto é triste como a roseira que chora
Ao ser podada sem qualquer razão
Lhes cortam os galhos, lhes tiram as rosas
Mas também lhes tiram o tenro botão






Meu canto é triste como o nascer da aurora
Que a chuva forte lhe esquece a hora
Tão triste fica que a chuva fina
É a natureza que por ela chora


Meu canto é triste assim como eu
Que choro um tempo que o tempo levou
Meu canto é triste como é triste o mundo
Em que vivo por não saber quem sou.


José João

Renascer





Eu era a flor da beira da estrada
Que entre tantas ninguém notava
Passavam constantes os caminhantes
Mas minhas lágrimas ninguém olhava


Enfeitava o prado e meus dias tristes
Esperava um dia que alguém me olhasse
Nas manhãs choradas pelo orvalho frio,
Quem dera houvesse quem me secasse...


Um dia então, sem que esperasse
Grosseira mão me arrancou do galho
Me apertava tanto... mas sem emoção
Que a dois passos me atirou no chão!


Que triste destino a mim se impunha
Somente uma folha como companheira
Cadáver de estrada, de morte banal
E por sepultura só pedra e areia


Mas eis que me vem da mão do destino
Cantando alegre um feliz passarinho
Me olha risonho ... me faz reviver
E com todo carinho me põe em seu ninho.


José João

Esses poetas e suas poesias!





Como são magníficos esses poetas e suas poesias!
Não sei se são mágicos, ilusionistas do pensamento
Brincam de brincar com palavras e sentimento
Riem da solidão, da pior dor, em qualquer momento

Fazem as palavras valsarem elegantes em seus  versos
Ao som de uma sinfonia que nenhum maestro escreveu
Misturam o canto dos pássaros e os volteios do vento
Se gostam, com um ponto no fim do verso param o tempo

Brincam de correr entre estrelas fazendo versos pra lua
Tecem raios de luar fazem guirlandas e vestem a noite nua
Brincam de banhar com a lua na poça d' água que ficou na rua

Se por um momento a solidão se avizinha e a saudade lhe grita
Não se assusta, lentamente vai indo procurando uma flor qualquer
Senta no tempo e diz: vamos brincar de mal-me-quer, bem-me-quer...



José João

Estranho quadro

É noite, a chuva cantarola nos telhados,
O vento canta baixinho uma canção triste,
As árvores dançam um valsa desconhecida
De uma orquestra que nunca antes foi ouvida


As pedras acariciadas pela água da chuva
Se deixam lavar para ficarem mais belas,
A tudo isso alguém triste assiste calado
Como se fosse um quadro na janela pintado


Por um pintor que queria retratar a dor
Fazer com a chuva um quadro de  fundo
E pintar um lágrima sem matiz e sem cor


Que quadro estranho escolheu esse pintor!
Pintar o rosto de um desconhecido sofredor
Com a solidão vestida com todo esse amargor.


José João

Minhas poesias





Meus pensamentos se perderam em poesias mudas
Poesias sem formas com palavras soltas e vazias
Que nada dizem por que nem de solidão sabem falar
Nem da dor que sinto ou da tristeza que vou chorar


Minhas poesias nada mais são que cantos mudos
Sussurrados por uma alma que chora a própria dor
Ninguém lhe escuta os gritos por serem surdos
Ou os gritos são meros gemidos de um sonhador?


Minhas poesias são versos perdidos difíceis de ver
Atirados e até já vencidos no livro do tempo
Como pedaços de versos que ninguém mais quer ler


Minhas poesias são pedaços de nada assim como eu
Histórias falando de dores que ninguém nunca leu,
Versos perdidos que ainda hoje ninguém escreveu.


José João

Nem sonhos tenho mais





Nem sonhos tenho mais para sonhar,
Esperanças ficaram nas lágrimas choradas
Pelas dores sentidas que o destino me deu
E os devaneios ficaram no passado que morreu


As lembranças correram por entre o esquecimento
Belos momentos esconderam-se atrás de dores vivas.
Na carne ficaram cicatrizes abertas que sem pudor
Me lembram cruelmente que viver também é dor


Tentando fugir corri na direção de um horizonte
Como se do sofrimento pudesse me esconder
Indo por caminhos desconhecidos sem nada ter


Que me lembrasse o que fui, o que vivi, o que sou
Mas em minha alma as cicatrizes lembravam a dor
Que é só minha e vai comigo por onde eu for.


José João



Meu mundo





Meu mundo, tão pequeno que bem aí é o horizonte
Sem linhas cinzentas, sem céu azul e sem sonhos
Um horizonte pintado de apenas solidão e dor
Sem estrelas, apenas veredas sem sol, sem calor


Meu mudo, tão perdido e tão vazio onde apenas eu
Corro entre o nada, me banho com lágrimas e canto
Para eu mesmo ouvir, faço carinhos na saudade, rio
Grito meu nome pra eu mesmo não esquecer de mim


Sento no vazio do meu mundo e só, respiro profundo
Me conto histórias de amores que nunca vivi
Vôo em sonhos perdidos por lugares que nunca vi


Á! esse mundo tão pequeno, tão vazio e cheio de mim
Esse meu mundo povoado de solidão e tristezas
É um mundo diferente, tão pequeno e tão sem fim.


José João

Queria ser

Queria  saber rir, cantar como todos sabem,
Queria saber sonhar belos sonhos, como sonham
Queria ver um por do sol, pelo meno uma vez,
Diferente. Alegre, risonho, sem estar carente

Queria saber andar na direção de um horizonte,
Um horizonte colorido, pintado de arco-iris
Queria andar num caminho bordado, enfeitado,
De flores. Cantando versos de belos amores

Queria saber contar meus sonhos para as estrelas
Saber brincar como vento entre cercas e quintais
Queria saber cantar com os pássaros as canções
Desconhecidas. Essas canções que alegram vidas

Queria ser teu pensamento o mais doce pensamento
Queria ser um teu sorriso, o sorriso mais inocente
Queria  ser a paisagem, a mais bela de todas que
Viste. Não posso porque será que sou sempre triste?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Um triste despertar

Gosto de escrever poesias, nelas sou feliz
Posso ser rei de um reino onde as flores falam
Onde o rei cala e ouve o que um pássaro diz
Onde posso cantar alegre. Coisa que nunca fiz

Na minha poesia brinco de sonhar com as estrelas
Vou voando, sem medo, no mais distante horizonte
Brinco de escorregar nas nuvens como se fosse o vento,
Sou forte, sou mágico, nelas até para o tempo

Minhas poesias, meu mundo infinito e diferente
Onde amo. canto o amor, sou feliz não sou carente
Meu mundo de luz, ternura no ar, sublime perfume
Onde posso ser tudo, posso até mesmo ser gente

Na poesia, sinto, apalpo um amor forte e ardente
Por alguém que sem saber o nome seu nome eu chamo
E me entrego de braços aberto sem medo de amar
Ah! Que sonho! Que despertar! Acho que vou chorar...



Aprendi

Não sei mais quem sou. Me perdi
Nem sei mais pra onde vou.
Talvez fique aqui, dentro de mim
Como meu começo ou meu fim

Caminhei sem deixar rastros
Não deixei marcas nem sonhos
Se os deixei um dia, esqueci
Nem sei como cheguei aqui

Por vezes o eco do meu pensamento
Quando sóbrio, sussurrando me diz
Coisas desconexas, incoerentes,
Diz  baixinho que já fui feliz

Mas um coisa, com certeza, aprendi
A ser só, a ouvir, a calar,
A saber o momento da tristeza chegar
Me abraçar e a saudade comigo chorar.

Chega logo, amor!


Canto amor! Canto teu nome que nunca esqueci
Ainda te sinto o perfume, teus beijos ardentes,
Pena querida, que mesmo assim, nunca te vi
Talvez por isso eu e minha alma sejamos carentes

Te chamo, grito teu nome que nunca ouvi
Sinto teu corpo quente e macio bem perto de mim
Que por vezes até juro que contigo vivi.
Quem é você? Que me toma os sonhos e não conheci?

Será que é loucura? Ou será um desejo qualquer?
Será que você é um sonho perdido dentro de mim?
Ou será que você é, na verdade, um anjo-mulher

Voando no espaço procurando por mim? Ou brincando
De me ensinar a sentir o doce prazer de esperar?
Mas vem querida, chega logo, preciso te encontrar.

José João



Essas dores descabidas

Pra que cantar ladainhas ou rezar orações
Que ficarão no tempo sem serem ouvidas
Pra que fazer promessas em solene contrição
Todas ficarão entre os nadas como rezas perdidas

Rezar, me ensinaram um dia, mas até esqueci
Cantei versos sacros, ladainhas, ajoelhado orei
Foram tantas rezas ensinadas que até me perdi
E nenhuma me evitou sofrer as dores que já sofri

Hoje meus cantos são dores sofridas, sentidas
Que na alma se fazem cruéis, dolorosas feridas
Como se tudo fosse preciso pra viver por viver

Como se para viver fosse preciso apenas sofrer
Pra que cantar ladainhas? Serão só rezas perdidas
Para os santos, as dores dos homens são tão descabidas.

Vem, amor...


Vem, amor, não me faça esperar tanto
Não sei quem és ou onde possas estar
Mas sei que existes. meu coração diz
Te espero. Um dia haverás de chegar

Sinto teu perfume na brisa leve do mar,
Vejo tua silhueta no horizonte desenhada
Como se fosses um anjo, caminhando devagar
Me ensinando o doce prazer de esperar

Á! amor, que bom seria te botar no colo
Te fazer canção, até cantar pra você dormir
Velar teu sono e no teu sonho te ver sorrir

Vem, amor, há quanto tempo te espero tanto!
Gastei todos os sonhos pra sonhar contigo
Agora, amor, me resta apenas te ver comigo

José João

Como até agora vivi?

Meus sonhos ficaram moribundos
A solidão me faz companhia
As lágrimas brilham no rosto
Como purpurinas. como fantasias

Minha lembranças brincam comigo
Como pedaços de sonhos perdidos
Da solidão me faço terno amigo
Da tristeza, perfeito abrigo

Me busco em pequenos pedaços do tempo
Em que fragmentos de mim se esconderam
E nos sonhos, que de sonhar se esqueceram

Assim sou seu, no vazio procurando razão
Dos nadas que sem querer me vesti
Me perguntando como até agora vivi.

Ser só. É assim

Sozinho entre a solidão e a tristeza
Perdido entre saudades e sonhos que sonhei
O amor sempre mentindo, me enganando
Me dando como lembranças as dores que chorei

O silêncio se faz cruelmente vivo em minha volta
Tanto que ouço meus pensamentos soluçando,
Ouço minha alma rezando orações confusas
Como se orar fosse o mesmo que estar chorando

Invento rezas, as antigas estavam já vencidas,
Invento sonhos, que sei, nunca serão vividos
Busco sentimentos que nunca serão sentidos

Na multidão procuro olhares e não sou percebido
Ando, mesmo sabendo onde vou, me sinto perdido
Grito: Estou aquiiii ... mas nunca sou ouvido.

Eu, uma história que invetaram

Sou aquele sozinho que todos acham triste,
Aquele que chora desde quando ficou vivo
Sou a própria solidão que tanto insiste
Em me deixar sozinho e a ela ficar cativo

Sou aquele que anda na multidão e não é visto
Que grita a dor da alma e por ninguém é ouvido
Sou o nada, que por nada ser até insiste
Em viver, mesmo já sem ter qualquer sentido

Sou menos que eu mesmo, sou apena o meu grito
Que sai do peito como louco procurando aflito
Qualquer sonho que o faça fazer-se de infinito

Sou enfim, o mais esquisito sonho que sonharam
O sonho que se sonhou mas que nunca é lembrado
Sou, talvez, apenas uma história triste que inventaram



O infinito das flores

Ah! As flores! Pedaços infinitos de Deus
A meiguice terna e beleza das violetas
Que se fazem inocentes, se fazem criança
E se deixam acariciar pelas frágeis borboletas

Meu Deus! As orquideas! frágeis fadinhas divinas
Coloridos anjos do céu por descuido na terra caidos
Na verdade são pedaços completos de Deus
Pedaços do céu que nunca foram colhidos

Cravos, antúrios, azaléas, margaridas e jasmins
Chegam aqui na terra por um suspiro de Deus
Pois todas elas um dia eram anjos e querubins

Ah! Essas flores que nos dão alegria e calma
Esses maravilhosos pedacinhos infinitos de Deus
Bem mais que os homens elas têm amor e alma

Meu deserto





Vivo num deserto povoado de sonho mortos
Por fantasmas de saudades tristes e moribundos
E tudo se faz sem cor, sem som, se faz vazio
Que penso estar a solidão em pleno cio


Meu mundo se fez um pedaço completo do nada
Onde nada entra, nada sai e nada existe
Nem eu, que mudo, canto poesias inacabadas
Sem começo, sem fim mas sempre tristes


Assim vou por caminhos bêbados e tortos
Sem margens que guiem um rumo, um norte
Sem orações ou ladainhas que me dêm sorte


Até as pedras choram por tão triste rota
Nem o eco do meu soluço a elas já não importa
Pois as pegadas que deixei... estão todas mortas


José João

Aos não amados

Esta poesia é para os desventurados
Aqueles que amaram e nunca foram amados,
Choraram dores lacinantes e profundas
Que até as almas se fizeram moribundas

Estes versos, se um dia forem lidos
Por quem com eu à sorte se entregou
Com certeza, não se sentirão surpreendidos
Em saber que nunca viveu quem nunca amoui

Amei como se amar fosse rezar. fosse orar,
Fosse cantar ladainhas com apenas um nome:
Amor, e Amar fosse todo meu sobrenome

Amei, como sei, ninguém no mundo amou
Fiz castelos de sonhos, mas coitado de mim
Castelos em que ninguém nunca me procurou

Bem aventurados

Bem aventurados os desventurados como eu
Bem aventurados os que choram suas dores
Bem aventurados  quem chora o amor que perdeu
Bem aventurados a quem tantos amores se deu


Bem aventurados os que têm uma dor pra chorar
Bem aventurados os que têm uma saudade pra sentir
Bem aventurados os que ainda assim querem amar
Bem aventurados os que choram sua dor sem mentir

Sou um desses a quem as lágrimas permite
Os olhos brilharem como diamantes ao sol
Sou, o que em mágoas, ainda sabe sorrir

Sou quem nas noites faz do céu seu lençol
Para todas suas dores ternamente cobrir
E entre sonhos e pesadelos deitar no chão e dormir

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A liberdade da poesia



A liberdade me proibiu
Limitar os versos que escrevo
Disse que a métrica é fria,
E os versos agora livres
Voaram tão alto que os perdi
Deixaram se ser meus,
Se entregaram devassamente
Ao mundo e fizeram voz,
Gritavam sua liberdade
Na poesia clara e completa,
E a poesia feita de versos
Curtos ou versos longos
Não deixou de ser poesia.
O pensamento gritava solto
Sem medo do começo
Ou do fim do verso,
E a poesia como se tivesse
Uma roupa nova
Não se preocupou com a elegância
Queria apenas ser verdadeira
E os versos ficaram como as pessoas
Altas, baixas, gordas, magras.
Negras, brancas ficaram assim,
Como  o mundo é feito,
Mas sem contradição, sempre sensível,
Doce, terna, assim como o mundo não é feito.
Quem sabe um dia os homens tenham
A liberdade dos versos sem métrica?
E a ternura da poesia completa ?

José João

... desses poetas que amam

Como queria ser poeta!
Escrever versos alegres,
Versos tristes.
Versos de mentiras verdadeiras,
Onde a alma, por doce inocência,
Ri da dor que sente.
Á! Como queria ser poeta!
Desses poetas
Que conquistam a solidão,
Que fazem da lágrima poesia.
Desses poetas que se fazem de mendigo
E deitam com a lua
Em qualquer sarjeta do universo,
Desses poetas que amam tão loucamente
Que se fazem criança e dormem inocente,
E criança seriam
Não fosse dormir na rua
Com a noite pecadora e nua
Lhe oferecendo o ventre
E o poeta, coitado, ainda carente,
No peito uma vontade ardente
Mas a alma sofreu tanto
Que a tudo ficou descrente...
Triste... indiferente.


Um traço traçado na taça

Traçando vagos traçados
Em tranças leves trançadas
Na mão da taça que trago
E na taça a traça traçando
O gosto do vinho que trago
No silêncio do leve traço
Traçado pela traça na taça
Caminho só, rindo ou sorrindo
Beijando a taça que a traça
Em silêncio comigo trançou
E trago o gosto perdido
Da vida que o destino traçou.

Como é bom amar!

Não sei quantas vezes amei,
Amei e sorri, que bom é amar.
Não sei quantas vezes amei,
Amei e sofri, que bom é amar.
Se outra vez tiver que amar
Não importa o que acontecer
Vou me entregar.. é preciso,
Eu preciso viver,
Ainda que depois um adeus
Faça a vida doer,
Mas com a dor se aprende
Que amar é viver
E viver se entende
Entre sorrir e sofrer.

O perfume de um beijo



O perfume de teus beijos
Ainda está dentro de mim
Como se fosse a saudade
De um amor que não tem fim

Mas como o perfume de um beijo?
Como pode um beijo ser perfumado?
Só entende esse doce  milagre
Quem um beijo divino tenha ganhado

José João

Amar? Eu!?

Sentar diante do nada
Olhos cansados de tanto chorar,
Sentir a saudade na alma
Solidão espreitando querendo chegar.
Ficar entre cantar e gritar
E as palavras correndo no tempo
Para a tristeza chegar.
E eu?! Com lembranças perdidas
Que me vêm em pedaços
Por nunca serem esquecidas.
Que fazer de mim agora?
Será que ainda posso sonhar
Com a loucura de um beijo ardente
De alguém que no mundo
Ainda possa me amar?


Á! Quanto já amei!

Sentado na porta da tarde
No meio do tempo, com o nada
Brincando em inocente dizer.
No violão um acorde risonho
Voando com o vento
E querendo viver
Na poesia, de há muito vivida,
Que mesmo querendo não pude esquecer,
Sentindo no rosto molhado
Por lágrimas frias caindo tristonhas
Mostrando que a vida
Também é vivida em pleno sofrer.
Caído no meio da estrada
Com um eco atrevido parido do nada
Correndo entre as dores até me chegar,
Num grito esquisito,
Ou moribundo gemido, até já não sei,
Dizendo num silencioso dizer que:
Me sinta feliz pelo tanto que amei.

Eu, um pedaço de mim





Já fui feliz, já sonhei, já vivi
Sonhei sonhos lindos ainda acordado
Tremi de amor em ternos braços
Me senti deus por tanto ser amado


Fiz poesias alegres falando de amor
Escrevi contos com prazer, com ternura
Até gritei ao mundo que a tristeza sorria
Por tanto ver em mim tamanha alegria


Depois acordei como pedaço de mim
Com sonhos mortos, caídos, vencidos
Os lindos sonhos morreram enfim


Hoje sou resto do tempo, resto de nada
Resto de mim, resto do que um dia me vi
Hoje apenas grito ao mundo: Viva, morri.


José João



Só nos sonhos te encontro

Lá se vão as estrelas na alvorada
Levando os sonhos que não sonhei
Aqueles sonhos, amor, que eram teus
Dos momentos que foram todos meus

Á! amor, quantos sonhos tenho ainda
Pra sonhar contigo o que não sonhei!!
Sonhos com tudo que me faça lembrar
Dos beijos, querida, que não te dei

Quantas alvoradas haverão de espantar
As estrelas e meus momentos de ilusão
Deixando em mim este gosto de solidão?

Quantas noites ainda não vou dormir
Pela ansiedade de dormir e te sonhar
Se só nos sonhos consigo te encontrar

Vem logo!


Te amo e te preciso como divina luz
Deixa que sonhe contigo e viva este sonho
Que se fará verdadeiro em minha alma
E seguirá comigo como canto de paz e calma

Deixa que em meus sonhos te tenha toda,
Te carregue entre flores, beijos e desejos
Deixa, querida, que meus sonhos me acalentem
E diz-me que a mim eles não mentem

Vem amor, entre estrelas rios e jasmins
Vem no raio de luar perdido na madrugada
Revive minha alma tão triste e tão calada

Amor onde estás? Te busco até em orações
E sem saber teu nome te chamo loucamente,
Porquê estás vindo assim tão lentamente?

José João

A cor de minha tristeza

Se a tristeza tivesse cor
De que cor seria a minha?
Teria a cor do mendigo
Ou teria a cor da rainha?
Qual é a cor do mendigo?
Que cor teria a rainha?
Então que cor teria a tristeza
Essa tristeza que é só minha?
Teria a cor do tempo?
Ou teria cor de esperança?
Ou seria colorida
Da cor que gosta a criança?

Queria saber ...




Queria  saber rir, cantar como todos sabem,
Queria saber sonhar belos sonhos, como sonham
Queria ver um por do sol, pelo meno uma vez,
Diferente. Alegre, risonho, sem estar carente

Queria saber andar na direção de um horizonte,
Um horizonte colorido, pintado de arco-iris
Queria andar num caminho bordado, enfeitado,
De flores. Cantando versos de belos amores

Queria saber contar meus sonhos para as estrelas
Saber brincar como vento entre cercas e quintais
Queria saber cantar com os pássaros as canções
Desconhecidas. Essas canções que alegram vidas

Queria ser teu pensamento o mais doce pensamento
Queria ser um teu sorriso, o sorriso mais inocente
Queria  ser a paisagem, a mais bela de todas que
Viste. Não posso. Porquê será que sou sempre triste?

José João

domingo, 11 de setembro de 2011

Gritos da alma

Meus sonhos são meros pedidos da alma
Pedidos que ela, neles chorando, implora
Um momento que seja, de doce ternura
Para que esqueça as tantas vidas que chora

Esse chorar que em lágrimas à alma sufoca
Espasmo sofrido, incontido, por tanto sofrer
Me faz que a alma calada, tímida e triste
Sonhe querendo um belo e novo acontecer

Ah! Pobre alma sonhando a esmo um alvorecer
Uma aurora de cores, de versos, de amores
Um pedaço de tempo que lhe faça viver

Mas o destino irônico, frio, cruel e zombador
Faz que o tempo lhe marque com lágrimas e dor
Fazendo que a alma apenas grite em triste clamor.



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Onde estás?








Onde estás, ó doce alma de ternura infinda?
Porque te foste ao tempo sem nada me dizer?
Em mim deixaste muito mais que apenas dor
Me tiraste a vontade que ainda restava de viver

Porque tua ausência me impões sem um adeus?
Levando contigo sonhos que me destes a sonhar
Tirando a alegria dos meus olhos que eram teus
Por que só a ti, amor, eles felizes queriam olhar

Agora em desespero, teu nome ao mundo grito
Soluços e lágrimas de meu peito saem aflitos
Como orações rezadas por tristes fiéis contritos

Ó! Dor! Dor atroz, maldita dor dos condenados
Que chega  como martírio ou remissão de pecados
Por apenas ousar um dia, loucamente ter amado

José João















quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Minhas relíquias

Revirando minha grande e velha gaveta,
Revendo meus guardados, fiquei surpreso
Com o que o tempo me deu para guardar.
Palavras soltas, letras perdidas,
Velhas e poeirentas poesias inacabadas,
Até um beijo, bem velhinho, sozinho,
Sentado no canto da gaveta, um beijo
Que havia esquecido de ter recebido.
Retratos, coitados, sem cor, roídos.
Sorrisos amarelados em rostos apagados.
Até aquela velha saudade de cabelos brancos
Dormindo comodamente sobre aquela história
Que ficou guardada sem que eu soubesse.
E as cartas? Cartas que nunca foram enviadas,
Tantas que se acotovelavam e até discutiam
Na esperança de que fosse manda-las,
Não entendiam que já estavam velhas.
Não que não tivessem mais sentido
Ficaram como registros de momentos
Que também envelheceram e nem aconteceram.
As recordações discutiam acirradamente
Cada uma querendo sem mais jovem que a outra
E como se não bastasse, a mais importante também.
E os sonhos?! Velhos e caducos sonhos
Misturando as histórias ou contando em pedaços
As tão já passadas emoções e sensações.
O que também me chamou a atenção
Foram duas lágrimas tão velhinhas
Que quase nem se punham mais de pé
Embora parecessem lúcidas, diziam contentes
Que eram remanescentes de um sorriso...
Um sorriso em que os olhos choraram.
E um velho soluço conversando com os ais
Da mesma idade, dizia: Coitadas estão caducando,
E eu fiquei sem saber se sorri realmente um dia .
Á! Minha grande e velha gaveta
Cheia de relíquias que o tempo não consome.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Não sei ser poeta

Queria ser poeta, saber escrever versos bonitos,
Saber falar da beleza dos raios de luar
Deitados na praia beijando ternamente a areia.
Saber falar do por do sol, da saudade melancólica
Que vai aumentando enquanto ele vai lentamente
Se escondendo no horizonte entre cores
Que nenhum homem ousou ou imaginaria criar.
Á! Se eu soubesse ser poeta? Falaria
Da beleza das flores, da inocência dos lírios,
Entenderia o cantar terno da brisa ninando
Os miosótis, os jasmins, as dálias, as rosas...
Porquê não nasci poeta para saber falar das belezas?!!
Falar dos pequeninos, belos e irriquietos passarinhos
Cantando lindas sinfonias em notas que ninguém conhece.
Se eu fosse poeta saberia ouvir o canto do vento
Fazendo o mar valsar com suas ondas brancas,
Leves, soltas, como criança brincando na praia.
Se eu fosse poeta saberia falar do amor
De sua beleza terna, doce, envolvente e cheia de vida,
Dos namorados apaixonados trocando beijos
Na sombra de um flamboyant  tão risonho de florido.
Saberia escrever versos apaixonados. Parar o tempo
Eternizando momentos de paixão, de entrega
Como a emoção e a beleza do primeiro beijo.
Mas não sou poeta, e triste reconheço isso,
Nunca serei poeta, sou apenas um sonhador
Que sente saudade dos próprios sonhos
Até dos sonhos que, infelizmente, nunca sonhou,
Sou aquele que faz versos tristes por não ser poeta
Que escreve lágrimas tristemente caídas no tempo
Sou quem o mundo fez andarilho... assim como o vento.



domingo, 4 de setembro de 2011

Brincando de enganar o sofrer


Deus, Deus, Deus. Deus que não ouve minha prece
Que me permite sentir dor tão cruelmente voraz
Deus onde estás? Vê que dor minha alma tanto padece
Oh! Deus me responde: Será que tanto ela merece?

Eu e ela,  os dois, andamos como sombras tristes
Indo por estradas que nem no horizonte se curvam
Tão forte é o vazio que do tempo faz  um simples nada
E da alma, dela faz, coitada, uma triste alma penada

Meus sonhos se fizeram pesadelos pavorosos
Em que fico a procurar a mim mesmo em outro tempo
Como se eu não existisse em quase nenhum momento

Mas agora que importa? O que ainda posso fazer?
A não ser chorar brincando para enganar o sofrer
Ou então sorrir fingindo que ainda gosto de viver.